Sim, voltei, quase dois meses depois da última publicação... Demorou mas saiu.. fiquem com a parte 4 de Eillen!
_Eillen, o que você está fazendo? Já achou a pista que deixei?
_Eillen, o que você está fazendo? Já achou a pista que deixei?
_Não
papai, por mais que eu olhe, não vejo nada diferente aqui... aposto
que é uma piadinha né, não mudou nada e vai me deixar olhando por
dias só para dizer que me enganou...
Jeremiah
abriu um pequeno sorriso, e se aproximou de onde Eillen estava
sentada, com os pés balançando ao vento, enquanto procurava a pista
na estante da sala. Ela sempre fora mais paciente que o normal,
apesar de ser uma criança ainda, mas tinha seus rompantes.
_Minha
filha, não, não estou te enganando. Nunca duvide de quando eu
disser algo. Se eu disse que existe uma pista na estante, é porque
existe.
_Mas
eu não consigo encontrar...
_e
como você está procurando?
_Ora,
olhando né, não toquei em nada, e estou tentando ver o que pode
estar diferente de ontem... mas tudo me parece no mesmo lugar, do
mesmo jeito, nada diferente. Observei item a item, prateleira a
prateleira, mas nada parece errado ali...
_Certo.
Então olhando cada detalhe possível, você não encontrou a pista.
Onde foi que eu disse que estava a pista?
_Na
estante.
_Então
quem sabe se você olhar a estante toda, ao invés de cada parte
dela, será que vai mudar alguma coisa?
Naquele
momento Eillen respirou forte. É claro, ela se apegou aos detalhes,
como sempre, e não percebeu aquilo que estava mais nítido. Observou
atentamente a estante, tentando englobar em seu olhar toda sua
extensão e altura, mas percebeu que estava perto demais. Desceu da
cadeira alta e se afastou alguns passos, depois mais alguns, e mais
alguns ainda, até que se deu por satisfeita, quase fora da sala. De
onde estava, não era possível distinguir alguns objetos, outros
ficavam ocultos pelas sombras, os livros se embaralhavam, os retratos
se tornavam espelhos. A estante, no entanto, estava completamente
visível, de forma que Eillen permaneceu vários minutos de olhos
vidrados, e finalmente, finalmente conseguiu descobrir a pista.
A
estante era grande, de madeira trabalhada, dividida em 3 colunas,
sendo que a do meio era maior que as outras duas juntas. A coluna
central continha três grandes gavetas e sobre elas, três pequenas
gavetas uma ao lado da outra, e mais duas prateleiras no espaço
restante. As duas colunas das extremidades eram divididas em 8
prateleiras de tamanhos iguais. Olhando assim, a distância, era
possível perceber um desenho na madeira trabalhada, e este seguia
apenas um sentido em todas as gavetas e prateleiras. Exceto uma. Ao
fixar o olhar, Eillen notou que a inclinação do desenho daquela
prateleira estava levemente desalinhada. Com um grito de triunfo, ela
correu até a prateleira (pegando um banquinho no meio do caminho, já
que ficava muito alta para ela), enquanto Jeremiah fazia de conta que
não tinha percebido.
Primeiro
ela achou que a prateleira estava mal apoiada, e tentou corrigir, mas
ao levantar-la, constatou que todos os quatro apoios estavam ali, bem
firmes e no lugar certo. Depois imaginou que o pai tivesse invertido
a prateleira, então a virou e recolocou no lugar, mas o desenho
perdeu completamente o sentido assim. Então tentou ainda girar a
peça para ver se uma das laterais tinha o desenho certo, mas nenhuma
delas exibia desenho algum. Voltou a posicionar a prateleira
corretamente. Olhou as outras para ver se alguma poderia ser trocada,
mas todas estavam perfeitas. Se aproximou até o nariz quase encostar
na madeira e com um olhar minucioso, percorreu cada milimetro do
desenho. Achou uma elevação estranha, e passou o dedo.
Imediatamente o desenho despencou da prateleira.
Eillen
se assustou a principio. Achou que tivesse estragado tudo e olhou
para o pai, mas este permanecia estoicamente distraído em seus
afazeres. Olhou do desenho caído para o pai e deste para a
prateleira. Só então percebeu que na verdade o desenho estava ali.
O verdadeiro desenho permanecia na madeira, e alinhado. O que caíra
certamente era a pista!!!
_Encontrei,
pai, encontrei a pista... que legal... e agora?
Jeremiah
abriu os braços bem na hora que Eillen pulava para um abraço de
ursinho, e não pode deixar de sorrir com a animação da menina.
Pegou a faixa e começou a desdobrá-la, até que uma figura estranha
apareceu.
_Sabe
o que isso significa? Esta figura?
_Não.
_Significa
que todas as coisas estão lá, seja numa pequena parte, seja no
todo, se buscarmos, o fim levará ao começo.
_Hein?
_Um
dia você vai entender, mas agora me diga, o que aprendeu
procurando esta pista?
_Hmmm,
que nem sempre é nos detalhes que as coisas importantes estão?
_Muito
bem, isso é uma parte, mas tem mais duas lições: as vezes o todo
tem mais detalhes do que a parte.
_Ah,
entendi, no caso, quando olhei parte por parte da estante, não vi
o que precisava, só quando olhei tudo junto que vi...
_Isso
mesmo, e outra coisa: as vezes, para se ver o todo, é necessário
se afastar.
_Sim,
eu vi que se ficasse muito perto, não dava para ver todas as
partes da estante juntas...
_Exatamente!
Então, no próximo jogo, lembre destas lições, elas vão te
ajudar. Agora vá tomar banho, logo vamos jantar.
O sol já
havia percorrido metade do seu caminho quando Eillen sentou
repentinamente em sua cama. As poucas horas de sono foram
reveladoras. Ligou o computador e observou a primeira imagem.
Sim, era
igual ao desenho da prateleira. O que era mesmo que significava? “
todas as coisas estão lá, seja numa pequena parte, seja no todo, se
buscarmos, o fim levará ao começo” . Eillen ainda estava meio
surpresa com o fato de lembrar disso, já que tinha 6 anos quando
aconteceu, mas ao mesmo tempo ficou intrigada. Aquela fora a única
vez que vira a figura. E a única vez que o pai falara sobre ela.
Tanto que nunca mais havia voltado a sua memória até este momento.